Os principais terminais paulistas enfrentaram nesta quinta-feira (11) um cenário de caos após o vendaval que atingiu a região no dia anterior. O número de voos cancelados em São Paulo já ultrapassa 344 entre quarta (10) e a manhã de hoje, somando suspensões nos aeroportos de Congonhas, na capital, e no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em Cumbica. As filas se estenderam pelos corredores, passageiros dormiram nos bancos e a malha aérea nacional entrou em descompasso.
Na manhã desta quinta, Congonhas e Guarulhos ainda operavam com restrições, apesar de não estarem oficialmente fechados. O impacto se espalhou para aeroportos do Rio de Janeiro e de Brasília, evidenciando o efeito cascata provocado pelo fenômeno climático considerado inédito pelos meteorologistas.

Ventos sem precedentes causam instabilidade nos aeroportos
A ocorrência de tantas interrupções no sistema aéreo está diretamente ligada à força das rajadas registradas na Grande São Paulo. De acordo com especialistas, esta foi a primeira vez que ventos tão intensos atingiram a região sem estarem associados a chuva ou tempestades. Em Congonhas, as rajadas chegaram a 96,3 km/h, índice que levou aeronaves a ficarem impedidas de pousar ou decolar com segurança.
O fenômeno deixou um rastro de destruição: mais de dois milhões de imóveis ficaram sem energia, dezenas de árvores caíram, parques foram fechados, e até consultas médicas precisaram ser canceladas. Na manhã desta quinta, ainda havia cerca de 1,5 milhão de imóveis sem luz, segundo a Enel.
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Congonhas registra o maior número de voos cancelados em São Paulo
O Aeroporto de Congonhas entrou nesta quinta-feira com a operação aberta, mas sob ajustes severos na malha aérea. Apenas hoje, o terminal contabilizou 31 chegadas e 15 partidas canceladas. Na quarta-feira, o balanço havia sido ainda maior: 88 chegadas e 93 partidas suspensas, totalizando 181 voos cancelados em dois dias.
O terminal recebeu passageiros exaustos, com relatos de longas horas de espera e ausência de informação clara. Os balcões das companhias aéreas ficaram sobrecarregados e as filas avançaram pelos corredores, dificultando o fluxo no terminal.
Guarulhos enfrenta atrasos e mais de 100 voos suspensos desde quarta-feira
O Aeroporto Internacional de Guarulhos também foi fortemente afetado, contabilizando 61 chegadas e 56 partidas canceladas desde ontem. Mesmo com a concessionária GRU Airport afirmando que a operação foi normalizada, a realidade no saguão indicava outro cenário: filas longas, passageiros dormindo no chão e dificuldades para conseguir remarcação.
Os impactos no terminal de Cumbica refletem a potência da ventania, que afetou equipamentos, estruturas e a logística interna dos voos. Além disso, o terminal é um dos principais hubs internacionais do país, o que agrava ainda mais o efeito acumulado das suspensões.
Passageiros relatam frustração e falta de assistência
Entre os milhares de afetados pelos voos cancelados em São Paulo, a passageira Débora relatou à GloboNews que tenta embarcar para o Rio de Janeiro desde quarta-feira. Ela teve o voo remarcado para 10h10 desta quinta, mas, ao chegar ao aeroporto, recebeu a notícia de que a partida havia sido cancelada novamente. Sem previsão, ela segue aguardando no terminal.
Outro caso é o de Elza, que veio de Fortaleza e faria conexão para Florianópolis. Após ter o trecho cancelado, foi informada de que o novo voo só deverá acontecer entre os dias 14 e 15. Passageiros como ela reclamam da dificuldade de conseguir hotel, alimentação e realocação adequada, conforme prevê a ANAC em situações excepcionais.
Destruição provoca apagão e compromete trânsito e serviços
Os ventos também provocaram apagões em vários municípios paulistas. Segundo a Enel, mais de um milhão de imóveis estavam sem energia apenas na capital, além de outros municípios da Grande São Paulo.
A falta de luz afetou também a mobilidade urbana. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou 235 semáforos apagados e outros 25 com falhas. O resultado foi um trânsito lento em toda a cidade, que chegou a registrar 203 km de lentidão por volta das 7h.
Parques fechados e abastecimento de água comprometido
As áreas verdes administradas pela Prefeitura de São Paulo também sofreram impactos. Todos os parques municipais amanheceram fechados para avaliação de quedas de árvores e danos estruturais. A reabertura dependerá de inspeção caso a caso ao longo do dia.
Além disso, bairros da capital relataram baixa pressão e falta de abastecimento de água em decorrência do apagão. A Sabesp informou que equipes trabalham para restabelecer o sistema conforme a energia retorna gradualmente.
Congonhas e Guarulhos tentam retomar ritmo, mas filas continuam
No início da manhã, Congonhas registrava forte movimentação, com dezenas de passageiros aguardando remarcação ou tentando embarcar em voos com vagas remanescentes. A Aena, administradora do terminal, informou que ao menos 11 voos estavam cancelados logo cedo, número que aumentou ao longo das horas.
Em Guarulhos, as filas se acumulavam principalmente nos balcões de atendimento das companhias aéreas. A GRU Airport declarou que atua no reforço de equipes e orientação, mas passageiros afirmaram esperar mais de três horas para atendimento em alguns casos.
Impacto nacional e riscos de novos atrasos
Como São Paulo é o maior centro de conexões do país, os voos cancelados em São Paulo afetam aeroportos em diversas regiões. Terminais do Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília também reportaram atrasos e dificuldades para reorganizar suas malhas aéreas.
Especialistas afirmam que, mesmo com a melhora do clima, a recuperação total da malha deve levar ao menos 48 horas. Isso porque as equipes, aeronaves e horários precisam ser realocados em cascata, respeitando regras operacionais e limites de tripulação.
Recomendações para passageiros
Diante do cenário, companhias aéreas recomendam que os passageiros consultem o status do voo antes de se dirigir ao aeroporto, preferencialmente via site ou aplicativo oficial da empresa. Em caso de cancelamentos, o passageiro tem direitos assegurados por lei, como reembolso integral, reacomodação gratuita ou assistência material.
A orientação é evitar ir aos terminais sem necessidade, já que o volume de pessoas tem dificultado o atendimento presencial. Para quem já está no aeroporto, a recomendação é buscar informações nos canais oficiais e manter contato constante com a companhia aérea responsável pela viagem.
