O site Turbli, especializado em previsão e monitoramento de turbulência atmosférica, publicou em 2024 um ranking das rotas de voo com maior incidência de instabilidade. A análise considerou cerca de 10 000 rotas conectando os 550 maiores aeroportos globais, utilizando dados da NOAA e do UK Met Office para calcular a “taxa de dissipação de redemoinho” (EDR), um índice que indica a intensidade da turbulência.
A rota com maior turbulência média foi entre Mendoza (Argentina) e Santiago do Chile, trechos curtos de apenas cerca de 196 km, com EDR de ~24,6, considerados moderados a frequentes.

Entendendo as causas da turbulência em rotas aéreas
A turbulência é provocada por vários fatores, incluindo correntes de jato (jet streams), frentes atmosféricas, tempestades e a proximidade de cadeias montanhosas. Quando o ar esbarra em montanhas, ele se eleva abruptamente, formando padrões turbulentos conhecidos como “mountain wave turbulence”.
Túneis de vento e diferenças abruptas de temperatura também contribuem. A interação entre ar quente e frio pode gerar redemoinhos invisíveis, dificultando a previsão com antecedência. Estudos indicam que esse tipo de turbulência, especialmente a “clear-air turbulence” (CAT), tem aumentado nas últimas décadas devido às mudanças climáticas.
As 10 rotas de avião mais turbulentas do mundo
Com base no estudo da plataforma Turbli, que analisou milhares de rotas globais em 2024, estas são as 10 rotas com maior incidência média de turbulência, de acordo com o índice EDR (Eddy Dissipation Rate):
- Mendoza (MDZ) – Santiago (SCL) – atravessa a Cordilheira dos Andes, liderando o ranking global.
- Santiago (SCL) – Santa Cruz (VVI) – trecho na América do Sul com ventos montanhosos e instabilidades.
- Almaty (ALA) – Bishkek (FRU) – rota curta na Ásia Central, com influência do relevo do Tien Shan.
- Tokyo (HND) – Osaka (ITM) – um dos principais voos domésticos do Japão, com alto tráfego e microturbulência constante.
- Lanzhou (LHW) – Chengdu (CTU) – na China, rota atravessa terrenos acidentados e áreas instáveis.
- Chengdu (CTU) – Xianyang (XIY) – afetada por padrões de vento fortes e frequentes variações atmosféricas.
- Osaka (ITM) – Sendai (SDJ) – outra rota doméstica japonesa com grande exposição a correntes de jato e CAT.
- Milão (MXP) – Genebra (GVA) – rota curta na Europa que cruza os Alpes, gerando forte turbulência orográfica.
- Milão (MXP) – Zurique (ZRH) – também sobre os Alpes, apresenta variações intensas de altitude e ventos.
- Brisbane (BNE) – Sydney (SYD) – destaque da Oceania, com tráfego intenso e condições atmosféricas instáveis.
Essas rotas não necessariamente apresentam turbulência severa o tempo todo, mas têm maior média histórica de instabilidade ao longo do ano. São trechos que exigem atenção redobrada dos passageiros e preparo das tripulações.
Fatores meteorológicos que intensificam turbulências
As correntes de jato, que se deslocam a alta velocidade entre diferentes camadas atmosféricas, provocam turbulência rápida e intensa em altitudes de cruzeiro. Essas instabilidades são chamadas clear-air e não são visualmente perceptíveis, tornando-as difíceis de prever com radares comuns.
Além disso, tempestades tropicais e frentes frias podem reforçar a instabilidade. Rotas sobre a América do Sul e próximos ao equador, onde essas formações meteorológicas são comuns, tendem a apresentar ressalvas frequentes por quedas abruptas ou turbulência em zoneamentos de tempestade.
Riscos e casos recentes
Embora a turbulência severa seja rara — cerca de um voo a cada 50 000 apresenta eventos graves —, seu potencial de causar ferimentos é real. Em maio de 2024, o voo Singapore Airlines SQ321, de Londres a Singapura, atravessou turbulência extrema sobre Mianmar, resultando na morte de um passageiro e dezenas de feridos.
Esse caso ressaltou que a turbulência invisível, sem nuvens na região, pode causar quedas abruptas ou deslocamentos internos na cabine. A FAA e outras agências aeroespaciais reforçam a importância de manter o cinto de segurança afivelado mesmo em condições aparentemente calmas.
Como se preparar para voar em rotas turbulentas
Passageiros que sabem que enfrentarão rotas com maior probabilidade de turbulência podem tomar algumas precauções para minimizar desconforto e riscos.
Analisar previsões antes do voo
Sites como o próprio Turbli permitem checar a previsão de turbulência com até 36 horas de antecedência. Basta informar os aeroportos de partida e destino para obter um alerta do nível provável de instabilidade no trajeto.
Essas previsões podem influenciar a escolha da companhia aérea, horário ou até mesmo o dia do voo. Em caso de turbulência prevista, algumas empresas podem adiar ou redirecionar a rota para evitar áreas mais instáveis.
Durante o voo: segurança e comportamento
Mantenha o cinto de segurança sempre afivelado enquanto estiver sentado, mesmo se o aviso estiver desligado. Isso ajuda a evitar lesões em caso de turbulência inesperada. É recomendável evitar levantar durante o voo em rotas conhecidas por ter condições mais instáveis.
Evite consumir bebidas quentes quando houver possibilidade de turbulência, para reduzir riscos de queimaduras em caso de janelas abruptas. Fechar a janela pode minimizar sensações de altitude e variação de pressão externa.
Escolha do assento
Os assentos próximos à asa geralmente oferecem mais estabilidade, pois ficam perto do centro de gravidade da aeronave. Evite os assentos mais afastados da fuselagem e da região da asa, que tendem a balançar mais durante turbulência.
Caberia considerar voar em dias de céu claro e evitar janelas próximas às zonas de tempestade ou rotas que cruzam montanhas ou correntes fortes de vento.